
Cinco viram réus por homicídio devido a morte em racha de charretes na praia
Por Eduardo Velozo Fuccia
Quatro homens e uma mulher acusados de participarem de um racha entre charretes em uma praia de Peruíbe, no litoral sul de São Paulo, viraram réus por dois homicídios dolosos, sendo um consumado e o outro tentado.
Na decisão que recebeu a acusação formal do Ministério Público (MP), a juíza Danielle Câmara Takahashi Cosentino Grandinetti, da 2ª Vara de Peruíbe, reconheceu a existência de prova da materialidade dos crimes e de indícios de autoria.
Conforme a magistrada, em um juízo prévio de admissibilidade da inicial, verifica-se, em tese, a adequação dos fatos narrados pelo MP aos tipos penais imputados aos denunciados, havendo justa causa suficiente para o prosseguimento da ação penal.
Autor da denúncia, cuja base foi o inquérito policial presidido pelo delegado Arilson Veras Brandão, o promotor Orlando Brunetti Barchini e Santos também requereu a prisão preventiva dos acusados. A juíza deferiu o pedido.
“A prisão preventiva se faz necessária em garantia da ordem pública, uma vez que ameaçada com a permanência da liberdade dos denunciados de crimes de extrema gravidade em concreto”, anotou a julgadora.
Ainda conforme Danielle Grandinetti, a preventiva também servirá para assegurar a instrução criminal e aplicação da lei penal, “resguardando eventual evasão dos denunciados do distrito da culpa”.
Ao decretar a prisão dos réus, a juíza observou que os fatos de possuírem residência fixa e ocupação lícita, por si só, não afastam o cabimento da medida, “pois são predicados comuns e exigíveis de qualquer cidadão”.

Dolo eventual
O racha aconteceu na manhã de 23 de março de 2025, na faixa de areia da praia do Taniguá, que fica próximo à aldeia indígena Awa Porungawa Dju. Thalita Danielle Hoshino, de 38 anos, pedalava uma bicicleta e foi atingida por uma charrete.
Essa vítima sofreu traumatismo cranioencefálico e morreu dois dias depois, no Hospital Irmã Dulce, em Praia Grande. Casada e moradora em São Bernardo do Campo, ela trabalhava na área de tecnologia da informação.
Thalita estava acompanhada de uma amiga, fisioterapeuta, que pedalava outra bicicleta e conseguiu desviar das charretes. Para o MP, também a título de dolo eventual, os acusados devem responder pela tentativa de homicídio da segunda ciclista.
De acordo com Barchini, os denunciados assumiram o risco da produção do evento morte, sendo todos corresponsáveis. O promotor destacou que eles agiram mesmo sabendo ser proibida a realização de corridas de charretes na praia.
A denúncia descreve que foram utilizados cavalos da raça American Trotter, “especificamente de corrida”, e surkes, charretes destinadas a esse tipo de competição, que reduzem significativamente a visibilidade frontal do condutor.
Três réus conduziam uma charrete cada, enquanto os outros dois realizavam a função de “batedores”, dirigindo um Chevrolet Onix e um Fiat Uno. Os motoristas também filmavam a corrida e prestavam apoio em geral aos participantes diretos da disputa.
Segundo o representante do MP, os réus imprimiram alta velocidade às charretes e aos carros, “um aderindo à conduta do outro”, indiferentes ao fato de banhistas, moradores, turistas, ciclistas, pesquisadores e a comunidade indígena local frequentarem a praia.
Para o promotor, os crimes foram qualificados pelo motivo torpe, porque os réus agiram em uma corrida de cavalos; pelo perigo comum gerado, que colocou em risco um número indeterminado de pessoas, e pelo recurso que dificultou a defesa das vítimas.
Barchini detalhou que as ciclistas tiveram a sua capacidade de defesa reduzida pela surpresa de se depararem com a disputa de um racha em plena faixa de areia e, ainda, devido à alta velocidade dos carros e das charretes.
Os réus e as suas condutas
Rudney Gomes Rodrigues é o charreteiro acusado de atingir Thalita, conforme o MP. Fabiano Helarico Ribeiro e Salvador Marcelo Gozza conduziam as outras charretes envolvidas no racha. Os dois primeiros estão presos e o terceiro permanece foragido.
Karina Santos Ribeiro e Éder Manoel Bimbati da Silva atuaram como batedores. Eles dirigiram, respectivamente, o Onix e o Uno. Karina é mulher de Rudney e se entregou à polícia ao saber que teve a preventiva decretada. Éder ainda não foi preso.
Conforme a denúncia, Éder possui um haras em Praia Grande, cuja estrutura ficava à disposição do grupo que participava das corridas de charretes. No dia do fato, ele e Salvador foram os responsáveis por levar nove cavalos até a praia de Peruíbe.
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