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02/05/2020

Impune na Bahia, matador do PCC é preso em SP; veja vídeo

Por Eduardo Velozo Fuccia

Após o Tribunal de Justiça da Bahia (TJ-BA) demorar mais de dez anos para julgar o recurso de apelação de um condenado por tráfico de drogas naquele estado e reconhecer a extinção da sua punibilidade pela prescrição superveniente (após a sentença), a Polícia Civil paulista captura aquele que é apontado como um dos maiores matadores do Primeiro Comando da Capital (PCC) nos chamados tribunais do crime.

“São pelo menos mais de 50 homicídios que ele praticou a mando da facção. Agora, as investigações prosseguem para descobrir onde os corpos estão enterrados”. A afirmação é do delegado Carlos Alberto da Cunha (veja vídeo), da 8ª Delegacia Seccional de São Paulo – São Matheus, na Zona Leste da Capital. Suspeita-se que os cadáveres foram ocultos em uma mata perto da favela do Parque Savoy, onde o bandido mais atuava.

Nesta região da maior cidade da América Latina, Wislan Ramos Ferreira exercia a função de magistrado às avessas, com se vivesse em terra sem lei, sob o império da barbárie, conforme revelam os setores de inteligência da Polícia Civil e do Ministério Público (MP) paulistas. Muitas de suas vítimas teriam sofrido requintes de crueldade psicológica e física, tendo membros decepados quando ainda estavam vivas.

Sem toga, sem caneta e sem o alicerce constitucional e legal, mas munido com submetralhadora e machado, Wislan julgava e aplicava como sanção mais severa a pena capital aos desafetos da facção. Entre os réus dos tribunais do crime estão alcaguetes, devedores de drogas, estupradores e “talaricos”, que seriam aqueles que flertam com mulheres de integrantes da organização criminosa, conforme detalha o delegado Cunha.

Wislan Ramos Ferreira, o Jagunço, desfilava pela comunidade com submetralhadora e machado

Não à toa, Wislan tem o apelido de Jagunço. Como capataz do PCC e homem de confiança da cúpula da facção, foi designado, inclusive, para eliminar o delegado geral Ruy Ferraz Fontes. O plano para assassinar o chefe da Polícia Civil de São Paulo foi descoberto há cerca de seis meses, após bilhete revelando a trama ser interceptado com um preso por policiais do Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic).

Nas investigações para capturar Jagunço, a equipe do delegado Cunha sofreu dois revezes em 2019. Em setembro, escapou de cerco na favela do Savoy ao se vestir de gari e pegar uma criança da comunidade. Disfarçado, passou batido por aqueles que o procuravam. Em dezembro, fugiu de carro levando a mulher grávida e a enteada como escudos. Após colidir em diversos veículos, prosseguiu a fuga a pé.

Salsichas e pitbulls

Nesta semana, o novo paradeiro de Jagunço foi descoberto. Com a família, ele estava morando em uma casa em Itaquaquecetuba, na Região Metropolitana de São Paulo. Uma ribanceira nos fundos do imóvel, que poderia ser eventual rota de fuga, e a existência de um casal de pitbulls na moradia fizeram a equipe da 8ª Seccional Leste planejar a invasão ao local, sem dar chances de reação ao juiz do tribunal do crime.

A casa foi toda cercada. Sob o comando do delegado Cunha, policiais definiram missões e contaram com o apoio de colegas que sobrevoaram o esconderijo do alvo a bordo do helicóptero Pelicano, da Polícia Civil. A entrada na residência aconteceu às 6h30 da última quinta-feira (30). Horas antes, investigadores haviam jogado através do portão salsichas com sonífero para evitar que os cães da Jagunço atrapalhassem a operação.

“Os pitbulls estavam trancados e não houve estresse”, disse Cunha ao comemorar a prisão do marginal. Sem a necessidade de um disparo sequer, mas com a detonação de duas bombas de efeito moral, Jagunço foi surpreendido dormindo e disse estar condenado na Bahia pelo “33” (referência ao artigo da Lei 11.343/2006 que tipifica o crime de tráfico). Por isso, conforme justificou, ele fugiu para São Paulo em 2010.

Com esta declaração, Jagunço demonstrou não estar atualizado com a própria situação processual. Condenado a seis anos e dois meses de reclusão por tráfico de drogas em Ibirapitanga (cidade a 350 quilômetros de Salvador), o criminoso não poderá ser mais preso por este crime. O delito aconteceu em 19 de fevereiro de 2009. No mesmo ano, em 30 de fevereiro, foi publicada a sentença e o réu recorreu ao TJ-BA.

O advogado de Jagunço pleiteou a desclassificação do crime de tráfico para o de porte de entorpecente ou, pelo menos, a redução da pena. Porém, ao apreciar a apelação no último dia 3 de março de 2020, mais de dez anos depois da sentença, a Segunda Turma da 1ª Câmara Criminal do TJ-BA, decidiu “declarar, ex officio, a extinção da punibilidade do apelante, em razão da prescrição superveniente, e julgar o recurso prejudicado”.

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