
Operação da PF põe Baixada Santista no radar mundial do tráfico internacional
Por Eduardo Velozo Fuccia
A Baixada Santista entrou no radar mundial do tráfico internacional de cocaína com a deflagração, na manhã desta terça-feira (29), da Operação Narco Vela. Com o objetivo de estancar o envio de grandes quantidades da droga para os continentes europeu e africano, a Polícia Federal prendeu 12 pessoas da região, de um total de 21 capturados no País. Acusado de participar do esquema por meio da lavagem de dinheiro, um contador de Santos não chegou a ser preso, mas teve medidas cautelares decretadas contra si.
O diferencial da Narco Vela em relação a outras operações de combate ao narcotráfico internacional é que nela não eram usados navios para transportar a cocaína, mas veleiros e barcos de grande porte. Outro fator que a distingue é a utilização de moderno e sofisticado sistema de comunicação, por meio de celulares satelitais, para dificultar a fiscalização por parte das autoridades. Essa informação foi destacada pelo delegado Osvaldo Scalezi Júnior, chefe da Divisão de Repressão a Drogas da PF, em Brasília.
Scalezi esteve na Delegacia da PF em Santos para acompanhar o balanço da operação para cumprir 35 mandados de prisão (quatro de preventiva e 31 de prisão temporária) e 62 de busca e apreensão em imóveis e empresas ligadas aos investigados, nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Maranhão, Pará e Santa Catarina. Eles foram expedidos pelo juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, que deferiu pedidos formulados pelo delegado Raphael Astini. A Narco Vela mobilizou 350 agentes.
Além das 21 capturas, foram cumpridas as preventivas de outros dois acusados que já se encontravam encarcerados, elevando para 23 o número de prisões da Narco Vela. Relatório da PF reconheceu que o grupo tem “ampla experiência” na logística marítima voltada ao transporte de grandes quantidades de cocaína. Ela compreende “operações complexas de transbordo da droga para embarcações de diferentes tipos”, mas todos aptos a realizar a travessia do Oceano Atlântico.

Ações de outros países
Segundo a PF, a investigação começou a partir de informação transmitida pela Drug Enforcement Agency (DEA), a agência norte-americana antidrogas, sobre a apreensão de três toneladas de cocaína, em fevereiro de 2023, dentro de um veleiro brasileiro em alto-mar, próximo à África. No mesmo ano, em setembro, a Marinha francesa interceptou em águas internacionais outra embarcação do Brasil com 2,5 toneladas da droga. Posteriormente, apurou-se que o mesmo grupo criminoso agiu nas duas ações.
O avanço das investigações possibilitou a descoberta de mais seis eventos do gênero, totalizando cerca de oito toneladas de cocaína. Com base no preço do quilo da droga comercializado na Europa, a PF estimou em R$ 1,3 bilhão o montante do entorpecente, requerendo bloqueio e apreensão de bens dos acusados até esse valor. O juiz Roberto Lemos deferiu esse pedido, que engloba imóveis, veículos, embarcações, dinheiro em espécie, joias e até criptoativos vinculados às pessoas físicas e jurídicas investigadas.
Conforme o julgador, a decretação da medida cautelar postulada mostra-se útil, sobretudo, no tocante à repressão eficiente do crime organizado. “No caso específico do tráfico, associação ao tráfico internacional de drogas e lavagem de dinheiro, a atuação jurisdicional deve abranger o enfrentamento patrimonial do crime, não apenas para impedir o proveito do seu produto econômico, mas também para obstar o emprego desses bens e verbas como insumo destinado à continuidade da prática delitiva”.

Quem é quem
Os alvos identificados na Narco Vela foram divididos em quatro núcleos, dos quais o denominado “Baixada Santista” envolve o maior número de participantes. Segundo a PF, ele tem em Marco Aurélio de Souza, o Lelinho, um dos principais articuladores do tráfico marítimo na costa brasileira. Dono de diversas embarcações, Lelinho ainda é sócio de duas empresas do setor náutico, respectivamente, na Praia de Santa Cruz dos Navegantes, em Guarujá, e na Ponta da Praia, em Santos.
Devido ao aumento da repressão ao tráfico internacional no Porto de Santos, surgiu um subgrupo operacional do núcleo Baixada Santista, comandado por Klaus de Castro Rios Motta e Silva, para atuar no Pará e Maranhão, conforme a PF. Ela também identificou Gabriel Gil Bernardo, o Jogador, como “membro de destaque” do PCC. Com atuação voltada à coordenação de negócios ilícitos na região de Santos, Jogador teria participado da negociação de um veleiro para futura travessia com drogas a partir do Nordeste.
Dos 19 integrantes do núcleo Baixada Santista apontados pela PF, 12 foram presos na terça-feira (29). São eles: Marco Aurélio de Souza (Lelinho), Walter Pires Junior, Klaus de Castro Rios Motta e Silva, Neuci Carmello, Anderson Monteiro Gomes, Erick Lennon de Souza Ribeiro Verrone, Fábio Rodrigues Ulhoa Cintra, Gabriel Gil Bernardo (Jogador), Ivan de Freitas Santos, Júlio Cesar Fernandes, Leonardo Prado Rocha e Sérgio Ruiz da Silva.
Em relação aos outros sete, seis permanecem foragidos, entre os quais dois que estariam no exterior, razão pela qual os seus nomes foram inseridos a pedido da Justiça Federal na difusão vermelha – lista da Interpol de procurados internacionais. O último acusado de fazer parte do núcleo Baixada Santista não teve a prisão decretada, porém, endereços a ele vinculados foram alvos de mandados de busca e apreensão, sendo-lhe ainda fixadas medidas cautelares.

Lavagem de dinheiro
Rodrigo de Paula Morgado é o investigado que deverá cumprir as medidas cautelares, sob pena de ter a prisão decretada. De acordo com essas medidas, ela deve comparecer quinzenalmente em juízo para comprovação de residência e exercício de ocupação lícita, não pode se ausentar da comarca sem prévia autorização judicial e tem que entregar no prazo de 24 horas o seu passaporte na Justiça Federal, pois está proibida a sua saída do território nacional.
Morgado teve sete endereços vistoriados. Três estão relacionados à sua empresa de contabilidade, sendo todos em Santos. Os demais são imóveis residenciais, ficando um em Bertioga e os outros em Santos, entre os quais uma mansão no Morro Santa Terezinha. Na decisão que deferiu os mandados de busca e apreensão, o juiz Roberto Lemos assinalou que há nos autos “elementos concretos” da participação do empresário em atos de “lavagem do dinheiro fruto das atividades criminosas relacionadas ao tráfico”.
Recentemente, o empresário se viu no centro de uma polêmica, que se tornou pública. Uma ex-funcionária o acusou de promover o sorteio de um Jeep Compass usado entre os empregados da contabilidade, em dezembro de 2024. Ela foi a contemplada, mas quatro meses depois foi demitida e ficou sem o veículo, que foi entregue com problemas e não chegou a ser transferido para o seu nome. De acordo com Morgado, a ex-colaboradora não mais faria jus ao automóvel porque não cumpriu “regras do contrato”.
Curta https://www.facebook.com/portalvadenews e saiba de novos conteúdos