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13/04/2020

Fiel escudeiro de Marcola nas ruas, Fuminho é recapturado na África

Por Eduardo Velozo Fuccia

Imaginava-se que ele estivesse na Bolívia, Colômbia ou Peru, países produtores de cocaína e onde ficam os fornecedores da droga que chega ao mercado consumidor europeu, após passar por portos brasileiros, como o de Santos. Porém, o maior traficante do Brasil em liberdade foi localizado, e preso, em um país banhado pelo Oceano Índico.

A recaptura de Gilberto Aparecido dos Santos, o Fuminho, aconteceu nesta segunda-feira (13) na África. Amigo e sócio do chefe máximo do Primeiro Comando da Capital (PCC) na venda de drogas, ele estava foragido há 21 anos e vivia acima de qualquer suspeita em um hotel de luxo em Maputo, capital de Moçambique.

Ao retornar de uma clínica médica, Fuminho foi preso por agentes da Polícia Federal (PF) e policiais daquele país. Ele não teve qualquer chance de reação e a sua extradição ao Brasil ainda não tem data definida. O seu advogado é de Santos e prepara a logística do voo que o levará à África para ver o cliente.

“A prisão está confirmada, mas ainda não tenho detalhes. O Gilberto tem contra si no Brasil dois mandados de prisão, sendo um antigo, de ação penal por associação para o tráfico que está suspensa, em São Paulo. O outro é de um processo de duplo homicídio, em trâmite no Ceará”, conta o advogado Eduardo Dias Durante.

Profundo conhecedor do organograma da facção, o promotor Lincoln Gakiya resume quem é Fuminho: “Ele é o maior fornecedor de drogas para o PCC e também amigo pessoal e sócio do Marcola. Fugiram juntos da Casa de Detenção de São Paulo, em 1999. Era o principal responsável por financiar e coordenar o plano de resgate do Marcola”.

A ida de Fuminho à clínica foi para tratar de ferimento na parte inferior da perna direita, que seria erisipela. Ao apontar o suposto problema do cliente, Durante aproveitou para afastar comentários de que a lesão foi produzida por disparo de arma de fogo. “É problema de saúde mesmo, nada de tiro, facada”.

Nota do Ministério da Justiça e Segurança Pública (MJSP) diz que Fuminho é “considerado o maior fornecedor de cocaína ao PCC e responsável pelo envio de toneladas da droga para diversos países”. O ministro Sergio Moro classificou a prisão de Fuminho como um “poderoso golpe” na organização criminosa.

A PF localizou Fuminho após investigações conjuntas com o Drug Enforcement Administration (órgão norte-americano de combate às drogas). O membro do PCC estava hospedado em Maputo com um nigeriano e um brasileiro, também presos. As suas identidades não foram reveladas.

Comparsas da Baixada Santista

O duplo homicídio do qual Fuminho é réu no litoral do Ceará aconteceu no dia 15 de fevereiro de 2018, em uma reserva indígena de Aquiraz, Região Metropolitana de Fortaleza. As vítimas são Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, e Fabiano Alves de Souza, o Paca, acusados de desviar dinheiro do PCC.

Segundo o Ministério Público, Fuminho planejou a execução com o aval de Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola. Para isso, recrutou em Guarujá o piloto de helicóptero Felipe Ramos Morais; Wagner Ferreira da Silva, o Cabelo Duro; Erick Machado Santos, o Rick da Baixada, e André Luis da Costa Lopes, o Andrezinho.

As vítimas viajavam no helicóptero pilotado por Felipe, que simulou um problema para pousar na reserva indígena e possibilitar o duplo assassinato. Na logística do crime, ainda conforme o MP, o grupo contou com a participação de Jefte Ferreira dos Santos, de Cubatão. Ele e a mãe providenciaram hospedagens para os comparsas em Fortaleza.

A execução de Gegê do Mangue e Paca causou um racha no PCC. Parceiros das vítimas, vingaram a sua a morte assassinando Cabelo Duro com tiros de fuzil uma semana depois, no momento em que ele chegavam em um flat de luxo na Zona Leste de São Paulo. Felipe, Andrezinho e Jefte já estão presos. Rick e a mãe de Jeft permanecem foragidos.

“A suposta participação de Gilberto no crime de Aquiraz não está comprovada. No processo não consta nada que o vincule à autoria intelectual das mortes, mas apenas ilações do Ministério Público cearense”, sustenta Durante. O advogado acrescenta que o cliente nunca esteve envolvido em planos para resgatar Marcola do sistema prisional.

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