Integrantes de megaquadrilha são condenados a penas de 70 a 110 anos por roubo
Por Eduardo Velozo Fuccia
“O desprezo dos criminosos pela ordem jurídica, pela paz social e pela vida humano é evidente e absoluto. O planejamento de uma ação desse jaez pressupõe a completa indiferença aos valores de uma sociedade organizada e a certeza de impunidade”.
A observação é da juíza Lívia Maria de Oliveira Costa, da 6ª Vara Criminal de Santos, ao condenar três homens acusados de assaltar uma empresa de transporte valores a penas que variam de 70 a 110 anos de reclusão.
Dois policiais militares foram abatidos pelos assaltantes, enquanto um terceiro levou um tiro na cabeça, mas sobreviveu. Sobrou até para um morador de rua, que dormia sob uma marquise. Atingido na sobra de disparos, não resistiu aos ferimentos.
O Ministério Público descreveu na denúncia que, na madrugada de 4 abril de 2016, Santos foi palco da maior, mais violenta e ousada ação criminosa de sua história. O roubo teve como alvo a filial da Prosegur da Rua Silva Jardim, 365, no Macuco.
Em sentença de 50 laudas, a juíza condenou Daniel Donizetti Colantuono, Hélcio Ananias Vilela de Oliveira e Cleber Dorama Lima Rodrigues, mais conhecido por Tatu.
A maior pena – 110 anos de reclusão – foi imposta a Daniel. Tatu foi condenado a 106 anos e quatro meses. A magistrada sentenciou Hélcio a 70 anos, dez meses e 20 dias.
Como garantia da ordem pública, os réus não poderão apelar em liberdade.
Um quarto acusado foi absolvido por insuficiência de prova e a juíza determinou a expedição do seu alvará de soltura.
A ação penal tem um quinto réu: Leandro Gabino. Foragido e citado por edital, sequer constituiu advogado. Por isso, em relação a ele, o processo e o prazo prescricional foram suspensos.
Pelo menos 30 criminosos participaram da ação. Suspeitos de integrar o Primeiro Comando da Capital (PCC), os marginais teriam se revezado para praticar outros roubos a empresas do mesmo segmento em várias cidades do País e até no Paraguai.
A quadrilha estava preparada para uma guerra. Portava armas de grosso calibre, como fuzis calibres 5.56 e 7.62, metralhadora .50 e pistolas, além de explosivos. Ela também furtou e roubou caminhões e outros veículos.
Parte do bando invadiu a empresa, projetando um caminhão contra o portão principal para arrombá-lo. Depois, explodiu cerca de cinco dinamites para chegar aos cofres nos quais era guardado o dinheiro.
Os demais assaltantes bloquearam ruas e avenidas com os veículos, dos quais alguns foram incendiados, e dispararam contra policiais militares que tentavam se aproximar.
O bando roubou R$ 12.167.591,38, mas perdeu alguns malotes de dinheiro durante a fuga, no momento em que trocava de carros. Policiais militares conseguiram recuperar R$ 8.794.408,57.
No local do roubo e durante a fuga, vários tiroteios foram travados entre policiais militares e os ladrões, que conseguiram escapar. Porém, a Polícia Civil identificou os cinco réus, dos quais quatro foram capturados.
A juíza reconheceu na sentença o trabalho de investigação e destacou a “valorosa e destemida” ação dos policiais militares, por não se intimidarem com o poder de fogo superior dos criminosos.
Uma das vítimas é um soldado da PM. Baleado na cabeça ao se aproximar de viatura da Prosegur, sobreviveu ao atentado. Na mesma rua da empresa de transporte de valores, houve a morte do morador de rua Dejair Zizuino.
Sem qualquer chance de defesa, os policiais rodoviários Leonel Almeida de Carvalho e Alex de Souza da Silva foram executados com tiros de fuzil dentro de uma viatura.
O veículo estava parado às margens do km 51,8 da Via Anchieta. Um dos carros da megaquadrilha passou pelo local em fuga e os seus ocupantes abriram fogo contra os patrulheiros.