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12/03/2021

Bando retira contêiner de navio para introduzir 1,1 tonelada de cocaína

Por Eduardo Velozo Fuccia

A prisão em flagrante de sete homens acusados de tentar despachar 1,1 tonelada de cocaína para Antuérpia, na Bélgica, revelou uma ousada logística do tráfico internacional que atua no Porto de Santos. Para introduzir a droga em um contêiner carregado com madeira e já devidamente lacrado, eles o retiraram do navio que o levaria à Europa. Também foram apreendidos um fuzil 5.56 e duas pistolas calibre .40 municiados.

A apreensão ocorreu às 7 horas da última terça-feira (9). Fruto de um trabalho conjunto entre Receita Federal e Polícia Federal, ela traz à tona aparente facilidade dos traficantes, graças à participação de um funcionário de terminal portuário privado no esquema criminoso. O encontro da droga também evidencia que nem sempre a contaminação (colocação da droga nos contêineres) acontece com os cofres de carga em trânsito.

Neste caso específico, o flagrante aconteceu no terminal da Santos Brasil localizado na margem esquerda do Porto de Santos, em Guarujá. Segundo agentes da PF, equipe da Receita Federal apurou que um contêiner destinado à exportação, após ser embarcado, foi retirado do navio San Antonio e levado até o pátio da empresa para a introdução da cocaína. A pesagem oficial contabilizou 1.111 quilos.

Motorista da Santos Brasil é preso ao transportar contêiner com cocaína em caminhão da empresa (Foto: Receita Federal/Divulgação)

Após a droga ser escondida no contêiner carregado com madeira, a caixa metálica seria levada de volta ao navio por um caminhão da Santos Brasil, de prefixo 213. Porém, durante o curto trajeto ao cargueiro, agentes da Receita prenderam o motorista do veículo, Tárcio Valença do Nascimento, funcionário do terminal. Logo após, mais seis homens foram presos por policiais federais saindo da empresa em um caminhão branco.

A equipe da PF parou viaturas na frente da Santos Brasil, porque soube que a cocaína apreendida foi transportada ao terminal, durante a madrugada, pelo caminhão branco. Identificado como Ivan Francisco de Moura, o motorista deste veículo tentou inicialmente furar o bloqueio, mas logo desistiu ao perceber que não conseguiria fugir. Atrás da cortina da boleia havia mais cinco homens.

Tiago de Sousa Rocha, Lucas Leite Rodrigues dos Santos, Anderson dos Santos Nunes, Higor Batista Fernandes e Guilherme Gonçalves de Sá vestiam roupas pretas e usavam toucas ninja. Na boleia onde se encontravam havia as pistolas e o fuzil, além de um alicate apropriado para cortar lacres de contêiner. Segundo a PF, o caminhão branco chamou a atenção porque se dirigiu a uma área do pátio pela qual não deveria circular.

Imagens de câmeras do terminal mostraram que o caminhão branco parou próximo ao veículo de prefixo 213. Em seguida, houve uma movimentação de pessoas abrindo a porta do contêiner retirado do San Antonio. Na sequência, o cofre de carga foi fechado e o caminhão da Santos Brasil saiu do local, transportando-o. A constante troca de informações entres os agentes da Receita e da PF resultou no sucesso da operação.

Rastro digital

Oito celulares foram apreendidos com os acusados. Apenas o motorista da Santos Brasil possuía três. O delegado Matheus Mela Rodrigues, da Delegacia da PF em Santos, requereu autorização judicial para ter acesso aos arquivos dos aparelhos. A expectativa é a de que eles contenham imagens, ligações, e-mails e diálogos por aplicativos indicadores do envolvimento de mais pessoas e de outras remessas de cocaína ao Exterior.

Rodrigues autuou os sete homens por tráfico internacional, associação para o tráfico e porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. Os acusados permaneceram calados durante os seus interrogatórios policiais, conforme garante a Constituição. O auto de prisão em flagrante foi distribuído à 6ª Vara da Justiça Federal em Santos. Em audiência de custódia, a juíza federal Lisa Taubemblatt decretou a preventiva dos sete acusados.

Denis Frank Araújo de Jesus é o advogado do motorista do terminal e não quis comentar o caso ao Vade News. João Manoel Armôa Júnior defende os demais autuados. Segundo ele, “os meus clientes foram abordados na saída da empresa sem qualquer materialidade de entorpecente, tendo apenas na cabine do caminhão o fuzil e as pistolas. As imagens são precárias para direcionar para eles o estufamento do contêiner”.

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