Por Eduardo Velozo Fuccia

As quatro linhas que delimitam a zona de circulação de Clóvis Aparecido Vesco, de 63 anos, não são mais as dos campos de futebol. Condenado por estupro de vulnerável, após vender a um adolescente de família humilde e do interior o sonho de ser jogador, o ex-técnico em enfermagem do time profissional do Santos FC cumpre pena de 12 anos, cinco meses e dez dias de reclusão. Esta partida com portões fechados ocorre na Penitenciária José Parada Neto, a P-I de Guarulhos, na Região Metropolitana de São Paulo.

Devido à natureza do crime e à idade da vítima (13 anos, à época do abuso sexual), o processo de Vesco tramitou em segredo de justiça. Porém, o Vade News apurou com exclusividade que o ex-técnico em enfermagem do Santos foi condenado pela 2ª Vara Criminal de Santos. A defesa do réu recorreu ao Tribunal de Justiça de São Paulo (TJ-SP), que negou provimento à apelação e manteve a sentença. O acórdão (decisão de segundo grau) transitou em julgado, ou seja, se tornou definitivo.

O Ministério Público (MP) propôs recentemente ação de execução da pena de multa criminal. Fixada em 15 dias-multa, cada qual arbitrado no mínimo legal, ela equivale a R$ 477,00, mas este valor deve ser atualizado. Intimado nos autos principais, Vesco não cumpriu voluntariamente o pagamento, motivando o ajuizamento do novo processo. Na hipótese de o réu não quitar o débito ou não indicar bens à penhora, ele terá o título protestado e o seu nome será inscrito nos órgãos de proteção ao crédito.

A multa tem natureza criminal e o seu destinatário é o Fundo Penitenciário do Estado de São Paulo (Funpesp). Ela não se confunde com indenização a ser paga pelo condenado por pedofilia, na hipótese de eventual ação cível por dano moral ajuizada pela vítima ser julgada procedente. O Vade News não conseguiu contato com a defesa de Vesco. Na época em que trabalhava no Santos, o condenado gostava de postar em sua rede social fotos com jogadores, entre os quais Neymar, atualmente no Paris Saint-Germain.

Pacote de ilusão

Vesco foi capturado no dia 17 de junho de 2019. Estava em sua casa, em Lindoia, município da região do Circuito das Águas paulista, quando investigadores chegaram para cumprir mandado de prisão preventiva requerida pela Delegacia de Defesa da Mulher (DDM) de Santos. Inquérito investigava o envolvimento do técnico em enfermagem no estupro do adolescente. Morador na mesma cidade do acusado, o garoto decidiu denunciá-lo em dezembro de 2018.

Na presença dos pais, a vítima relatou à Polícia Civil que aceitou convite de Vesco para atuar nas categorias de base do Peixe. Para isso, o garoto viajou para Santos, permanecendo com o acusado por uma semana. Ele disse que ficou sonolento ao beber um “suco de saquinho” preparado e oferecido pelo técnico em enfermagem. Quando recobrou os sentidos, o adolescente se deparou com o denunciado sobre ele, violentando-o. Este tipo de ação é conhecido nos meios policiais como ‘Boa noite, Cinderela’.

Na mesma data da prisão do funcionário, que negou a acusação, o clube emitiu nota à imprensa. “A prisão cautelar do técnico de enfermagem Clóvis Vesco, vinculado ao futebol profissional, não guarda qualquer relação com suas atividades desempenhadas no Santos Futebol Clube desde 2010. Tendo em vista que há investigações em curso envolvendo fatos repugnantes, coloca-se o Santos Futebol Clube à disposição das autoridades para colaborar com o que se fizer necessário”, diz o comunicado.