Por Eduardo Velozo Fuccia

Em nada lembrou a Guerra de Canudos (1896-1897), imortalizada em Os Sertões, de Euclides da Cunha. Sem a proteção de Antônio Conselheiro e do seu exército popular, Cristiano de Jesus Aleixo bem que tentou fugir, mas logo foi preso nesta quarta-feira (30) em sua cidade natal, no sertão da Bahia, a 500 quilômetros de Salvador. Acusado do latrocínio de um publicitário em Guarujá, no litoral paulista, ele era foragido desde 2009.

Cristiano está com 32 anos. Na ocasião do crime, em 15 de março de 2009, ele residia em Guarujá. O publicitário Daniel Zanon Polisson, de 30 anos, chegava de carro à casa da namorada, no Guaiúba, quando foi rendido na garagem pelo acusado e um adolescente, de 17. A dupla não chegou a roubar nada da vítima, que teria reagido e tomou um tiro no coração. Levada ao Hospital Santo Amaro, ela não resistiu. Os criminosos fugiram.

O delegado Luiz Ricardo de Lara Dias Júnior e o investigador Paulo Carvalhal trabalhavam naquela época na Delegacia de Guarujá e identificaram Cristiano e o adolescente. Ambos foram reconhecidos por meio de fotografias, sendo o adulto apontado como o autor do disparo que matou o publicitário. Em 26 de agosto de 2009, o juiz Valdir Ricardo Lima Pompeo Marinho decretou a prisão preventiva de Cristiano.

Excesso de confiança ou falta de criatividade, o fato é que Cristiano decidiu se esconder justamente em Canudos, município onde nasceu. Nesta cidade da região conhecida por Polígono das Secas, entre os seus cerca de 17 mil habitantes, conforme estimativa do IBGE em 2018, o procurado por latrocínio levava uma vida de cidadão de bem, acima de qualquer suspeita. Ao ser capturado, ele portava enxada e capinava um terreno.

A descoberta do paradeiro do acusado contou com o esforço de Maria de Fátima Zanon, de 66 anos. Mãe de Daniel, ela estabeleceu contatos com pessoas de Canudos e lhes enviou fotografias do acusado de matar o seu filho durante assalto. Recentemente, um dos destinatários das fotos lhe disse que viu o procurado da Justiça na cidade. A mulher repassou essa informação à mesma equipe policial que esclareceu o latrocínio.

O delegado Lara e o investigador Carvalhal, atualmente, integram a Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos. Eles enviaram cópia do mandado de prisão de Cristiano aos colegas da Polícia Civil em Canudos, que se incumbiram de cumprir a ordem de captura. Na próxima semana, uma equipe de policiais de Santos viajará até a Bahia para buscar o acusado.

“A prisão não traz o Daniel de volta, mas ameniza o meu sofrimento, porque o caso não ficará impune”, desabafou a mãe do publicitário ao Vade News. O latrocínio é crime hediondo e a sua pena varia de 20 a 30 anos de reclusão. Cristiano tem advogado constituído no processo que responde perante a 1ª Vara Criminal de Guarujá, mas não foi possível contato com a sua defesa para ela prestar eventual esclarecimento.

Segundo boletim de ocorrência, a captura de Cristiano aconteceu às 10h30, no povoado São Bento, zona rural de Canudos, e envolveu policiais civis e militares. Participaram da operação integrantes da 25ª Coordenadoria Regional de Polícia do Interior (Coorpin), com sede no município vizinho de Euclides da Cunha, e homens da Companhia Especial Tático Operacional (Ceto), do 5º BPM, que também fica nesta cidade.