Consórcio do pó perde quase 3 toneladas de coca e sofre prejuízo de R$ 756 milhões
Por Eduardo Velozo Fuccia
“A maior fronteira do Brasil é Santos, porque tem o Porto que escoa drogas para o mundo todo”. Dita em 2016, durante painel de debates sobre segurança, a frase do delegado Júlio César Baida Filho, ex-diretor da Polícia Federal (PF) em Santos, se revela mais atual do que nunca. Na última terça-feira (22), no maior complexo portuário do País, de uma só vez, a Receita Federal interceptou 2.932 quilos de cocaína. O valor estimado do entorpecente no mercado Europeu é de R$ 756,5 milhões.
A apreensão das quase 3 toneladas de cocaína foi a maior na história do Porto de Santos. Escondida em bobinas de alumínio, a droga seria despachada de navio para o porto holandês de Roterdã. Ninguém foi preso e a PF dá sequência às investigações.
Até então, o recorde era de 1.776 quilos da droga, encontrados em uma carga de limões frescos acondicionada em caixas de papelão, no dia 8 de março de 2019. Neste ano, em 49 apreensões, a Receita localizou no Porto de Santos 20,5 toneladas do entorpecente.
Os narcotraficantes internacionais tentam burlar a fiscalização introduzindo a cocaína nos mais diversos tipos de carga, tais como óleo, farinha, papel, tripas de carne, açúcar, café e máquinas, entre outros. Até dentro da estrutura de contêineres chegou a ser escondido o entorpecente.
A Receita Federal informou que a apreensão dos 2.932 quilos de cocaína aconteceu durante “ação de rotina”, na qual a carga de bobinas de alumínio foi selecionada para conferência. Para esta inspeção, foram empregados escâner e cão farejador do órgão. Porém, análise sobre importadores, exportadores, tipo de produto e porto de destino antecedeu a vistoria.
Consórcio do pó
O poderio das organizações criminosas que atuaram no esquema está explícito na quantidade de droga, no seu elevado valor e na logística empregada para tentar enviá-la ao exterior. Por esse motivo, provável consórcio entre megatraficantes e quadrilhas especializadas não está descartado na operação que envolveu os 2.932 quilos de cocaína.
A PF reúne indícios de que a máfia italiana ‘Ndrangheta se aliou ao Primeiro Comando da Capital (PCC). A facção brasileira ampliou os seus tentáculos nos países sul-americanos produtores da droga, em especial a Bolívia e o Peru. A organização da Calábria, no Sul da Itália, comanda a distribuição da droga no mercado europeu.
Eventual êxito na remessa ao Porto de Roterdã do carregamento de cocaína apreendido em Santos significaria aos envolvidos na operação, sob o ponto de vista econômico, uma espécie de Mega da Virada do crime. O quilo da droga na Bolívia gira em torno de US$ 1 mil (R$ 5.160,00), saltando para US$ 8 mil (R$ 41.280,00) em São Paulo.
Na Europa, o quilo da cocaína vale, no mínimo, US$ 50 mil (R$ 258 mil), fazendo do narcotráfico internacional a modalidade de crime mais rentável do planeta junto com o tráfico de armas. Esta cotação é para a venda por atacado, porque se a droga for comercializada por gramas aos consumidores finais, os lucros obtidos disparam ainda mais.
O negócio milionário e global que se transformou o tráfico é citado pelos escritores e jornalistas Allan de Abreu e Roberto Saviano. Brasileiro e autor do livro Cocaína: A Rota Caipira (Record), Abreu faz uma cotação do preço da cocaína semelhante à de Saviano, que é italiano e escreveu Zero Zero Zero (Companhia das Letras).