PM bombeiro mata colega por motivo passional e inventa história de roubo
Por Eduardo Velozo Fuccia
Um policial militar do Corpo de Bombeiros, que atua como guarda-vidas em Mongaguá, no Litoral Sul de São Paulo, matou com um tiro no rosto um colega por motivo passional. Antes de o delegado Luiz Carlos Vieira chegar a esta conclusão, o acusado alegou, como se não conhecesse a vítima, que um homem o seguia de moto para supostamente roubá-lo. Preso em flagrante, ele foi recolhido à cadeia.
Conforme a versão do policial Anderson Felizardo Pedroso, de 32 anos, ele dirigia sozinho o seu Corsa, por volta das 19 horas de quinta-feira (3), pela Alameda Umuarama, em Mongaguá, quando notou um homem o seguindo de moto. Desconfiado, ele parou o carro e desembarcou. O motociclista também desceu do veículo, caminhou na direção do acusado sem capacete e não parou, mesmo após ser advertido.
Diante do hipotético iminente assalto imaginário, Anderson declarou que disparou uma vez na direção do suposto ladrão para se defender. Segundo ele, o tiro foi efetuado a uma distância de dois a três metros. Porém, investigação e perícia entraram em ação e derrubaram o relato do policial. Para o delegado, a história do acusado vai além da mentira ou da autodefesa, razão pela qual também o autuou por fraude processual.
Pivô da morte
Investigadores da Delegacia de Mongaguá descobriram que Anderson não estava sozinho e nem dirigia o seu Corsa. Na realidade, ele estava com uma mulher, de 37 anos, no Citroën C4 Pallas dela. O carro do bombeiro da PM havia sido estacionado nas imediações e, após o assassinato, ele o trouxe para o palco do crime e levou o automóvel da testemunha para outro lugar próximo.
A mulher admitiu manter relacionamento amoroso com o guarda-vidas temporário Muller Vanille Alves da Silva Machado (foto), de 29 anos, e com Anderson. Na véspera do homicídio, a pivô disse que o policial militar lhe perguntou pelo WhatsApp se ela mantinha algum caso com a vítima. De acordo com a testemunha, ela mentiu ao bombeiro da PM, respondendo que não saía mais com o guarda-vidas.
A testemunha contou que reconheceu Muller de imediato quando ele chegou de moto ao local do crime. Em relação à distância do disparo, ela disse que o policial atirou de perto. A perícia avaliou que o autor do tiro estava a cerca de 50 centímetros da vítima, atingida na face esquerda, abaixo do olho. “Ora, a essa distância não se pode crer que Anderson não tenha reconhecido a pessoa em quem atirara”, destacou Vieira.
Anderson utilizou uma pistola calibre .40 de sua propriedade, enquanto a vítima se encontrava desarmada. O delegado autuou o policial em flagrante por fraude processual, porque ele “agiu de maneira a alterar a cena do crime”, e por homicídio qualificado pelo motivo fútil e pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O bombeiro foi recolhido ao Presídio Militar Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo.
Muller morreu no local do crime. Anderson disse que só reconheceu o colega após o disparo e justificou não tê-lo socorrido porque ficou em estado de choque. No entanto, questionado pelo delegado, o policial admitiu que recebeu orientação teórica e prática no Corpo de Bombeiros para prestar socorro a vítimas, bem como treinamento psicológico para enfrentar situações de crise.