Seguradora é isenta de culpa por não descobrir adulteração ao vistoriar carro
Por Eduardo Velozo Fuccia
A inspeção realizada em carro por seguradora para fins de contratação de seguro objetiva verificar a conservação do veículo, em interesse da empresa, sem a responsabilidade de constatar eventual procedência ilícita do automóvel. Do mesmo modo, sendo certa a companhia, incabível acionar o grupo econômico ao qual ela pertença.
Desse modo decidiu a 4ª Câmara de Direito Civil do Tribunal de Justiça de Santa Catarina (TJ-SC) ao negar provimento ao recurso de apelação de um homem. Ele ajuizou ação por danos material e moral contra uma seguradora e o grupo econômico dela, porque a primeira ré não descobriu a origem criminosa de um Polo Confort, ano 2018.
“A vistoria antes da contratação do seguro é feita pela seguradora em seu interesse, especialmente para verificar o estado de conservação do bem e analisar os riscos que serão cobertos, não para aferir a regularidade do bem frente aos órgãos de trânsito”, assinalou o desembargador Hélio David Vieira Figueira dos Santos, relator do recurso.
Segundo o julgador, o seu voto está em conformidade com o que estipula a Circular nº 306/2005 da Superintendência de Seguros Privados (Susep). Além disso, Figueira destacou que cabia ao autor, quando adquiriu veículo usado, adotar todas as cautelas para checar a regularidade do bem, sem repassar à seguradora tal responsabilidade.
Compra pela internet
Consta dos autos que o contratante comprou o Polo pela internet, de terceiro não integrante da demanda, em 19 de fevereiro de 2020. Para salvaguardar o bem, ele contratou seguro junto à Azul Companhia de Seguros Gerais, cuja vigência teve início sete dias depois, após a realização de vistoria do carro pela seguradora.
Por ocasião da transferência do veículo junto ao Departamento Estadual de Trânsito (Detran), realizada apenas em 3 de junho de 2020, o recorrente foi surpreendido pela notícia de que os números identificadores do motor e chassi apresentavam, respectivamente, queixas de furto e roubo.
Devido às peças de origem ilícita, o carro foi apreendido pela polícia e o autor virou alvo de inquérito para a apuração de suposto crime de receptação. Sob a alegação de que a seguradora falhou na prestação do serviço, por não detectar a irregularidade do veículo, o apelante ajuizou ação contra a Azul e a Porto Seguro, que são do mesmo grupo.
O recorrente requereu a cobertura contratual pela perda total do bem, além de indenização por dano moral. Em primeiro grau, os pedidos foram julgados improcedentes. Conforme a sentença, a responsabilidade pela compra do carro em situação irregular foi de responsabilidade “única e exclusiva” do autor.
Ratificando os pedidos iniciais, o dono do carro apreendido recorreu contra as duas rés. O relator da apelação observou que, entre a data da compra e a transferência da titularidade do veículo no Detran, se passaram cerca de quatro meses, “sem que se possa afirmar em que momento foi feita a adulteração”.
No entanto, de acordo com ressalva de Figueira dos Santos, “ainda que o veículo já apresentasse a falha no momento em que analisado pela seguradora, não era responsabilidade desta a verificação da fraude”. Os desembargadores José Agenor de Aragão e Selso de Oliveira seguiram o relator.
O acórdão anotou que a Circular nº 306/2005 da Susep é expressamente mencionada no contrato celebrado entre o apelante e a seguradora, juntado aos autos, no sentido de que a vistoria da companhia é feita no interessa dela, não podendo substituir eventual inspeção por mecânico de confiança do contratante.
Teoria da aparência
Antes de decidir a questão de mérito para rejeitar os pedidos do recorrente, a 4ª Câmara de Direito Civil havia afastado a Porto Seguro do polo passivo, por ilegitimidade de parte, justificando que essa empresa não guarda relação com as obrigações assumidas pela Azul, porque ambas são companhias com personalidade jurídica e atividades próprias.
O colegiado descartou a aplicação da “teoria da aparência” por inexistir dúvida para o autor sobre a seguradora contratada, sendo indevido acionar todos os integrantes do grupo econômico. Com o improvimento do recurso, o apelante deverá pagar os honorários aos advogados da recorrida, fixados em 2% sobre o valor atualizado da causa.
Foto: Pexels/Cottonbro
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