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14/07/2017

Antes morrer amanhã do que ser preso hoje

Advogado Armando de Mattos Júnior não vislumbrou hipótese de vingança por parte dos réus e orientou o seu cliente: “Diga a verdade”

Por Eduardo Velozo Fuccia

O dono de uma agência de turismo foi levar passagens áreas internacionais e vouchers de hotéis do exterior que lhe foram encomendados por três clientes. O encontro aconteceu no saguão de um hotel em Guarulhos, próximo ao Aeroporto Internacional de São Paulo, em Cumbica.

Na hora da entrega dos tíquetes, policiais que monitoravam com ordem judicial os telefonemas dos destinatários dos documentos os prenderam. Relacionada ao tráfico internacional de pessoas, a investigação acontecia já havia algum tempo. O dono da agência chegou a ser detido para averiguação, sendo logo liberado.

No entanto, o agente de viagem não se livrou de ser testemunha do processo. Na audiência judicial, a pedido do Ministério Público, foi feita acareação entre ele e os réus. Os acusados negavam vínculo com os bilhetes aéreos e vouchers apreendidos, emitidos em nome de mulheres brasileiras recrutadas para se prostituir na Europa.

O promotor sabia que as passagens e as reservas dos hotéis seriam levadas pelos réus a tais mulheres no aeroporto, mas precisava robustecer a prova com o depoimento da testemunha. Qualquer dúvida que nesse sentido pairasse beneficiaria os acusados em razão do princípio do in dubio pro reo.

Compromissado a dizer a verdade sobre o que lhe fosse perguntado, sob pena de ser responsabilizado criminalmente, o dono da agência de viagem se viu diante de uma encruzilhada indigesta. Se mentisse, seria processado por falso testemunho. Mas se contasse a verdade, derrubaria o álibi dos réus e seria decisivo para a condenação deles.

Suando frio, o depoente sussurrou ao seu advogado, que estava ao lado: “E agora doutor? Se eles forem condenados por causa do meu relato, da cadeia, eles mandam me matar!”

Sem acreditar na possibilidade desse tipo de vingança e sem querer que o cliente tivesse problemas com a Justiça, o criminalista Armando de Mattos Júnior foi direto em sua receita: “Você prefere ser preso agora ou morrer amanhã?”

O agente de viagem contou a verdade, o promotor ficou satisfeito e o juiz condenou os três réus. Os sentenciados já foram soltos após o cumprimento da pena e o advogado garante que o cliente continua bem vivo para confirmar a história daquela acareação.

 

CATEGORIA:
Crônica forense
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