Por Eduardo Velozo Fuccia

O lixo reciclável que era transportado em um caminhão de coleta seletiva da Prefeitura de Guarujá valia ouro, mas não o convencional, metálico e de cor amarela. O que havia na carroceria do veículo eram cerca de duas toneladas de cocaína, também chamada de “ouro branco” devido ao elevado preço do grama comercializado aos consumidores.

O motorista do caminhão e dois ajudantes foram presos em flagrante pelos crimes de tráfico e associação para o tráfico. Porém, as investigações agora devem avançar para identificar os envolvidos para além da logística, como fornecedores, financiadores e destinatários da droga. O trio autuado optou por ficar em silêncio ao ser interrogado.

O flagrante foi resultado de apuração da 2ª Delegacia de Entorpecentes, da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, para combater o transporte de drogas e o abastecimento de pontos de tráfico na Baixada Santista. Nesse trabalho, os policiais identificaram um galpão como “entreposto” do crime organizado.

Localizado na Rua Araguaia, 29, no Pae Cará, Distrito de Vicente de Carvalho, o galpão passou a ser vigiado pelos investigadores. No sábado (15) à tarde, eles viram uma caminhonete Fiat Toro azul ingressar no local com pacotes retangulares pretos. Mais tarde, um caminhão Mercedes-Benz branco saiu do recinto.

Com a inscrição “coleta seletiva” nas laterais, o caminhão integra a frota da Prefeitura e era dirigido pelo mesmo homem visto momentos antes conduzindo a picape. Considerando a situação suspeita, os policiais seguiram o veículo até interceptá-lo a alguns quarteirões de distância.

O motorista Nerino Cardoso da Silva, de 45 anos, estava acompanhado dos ajudantes Ryan Kageyama Santos, de 22, e Nilson da Silva, de 39 anos. Questionados sobre os produtos que transportavam, eles disseram inicialmente que se tratava de material de reciclagem.

O trio também afirmou que prestava serviço para o município de Guarujá, porém, não apresentou qualquer documentação sobre a atividade alegada. Em seguida, em vistoria na carroceria do caminhão, debaixo do lixo reciclável, os investigadores visualizaram os pacotes que haviam sido retirados da caminhonete Toro.

A abertura das embalagens revelou que elas acondicionavam dois mil tabletes de cocaína pesando em média um quilo cada. A partir daí, os acusados nada mais declararam. Pesquisa de antecedentes revelou que é Ryan é procurado da Justiça Federal pelo delito de tráfico de drogas.

Conduzido à 2ª Delegacia da Deic, o trio foi autuado pelo delegado Leonardo Rivau e recolhido à cadeia. Além da cocaína, os dois veículos foram apreendidos. Durante inspeção no galpão, os policiais encontraram sacos contendo grande quantidade de microtubos de plástico comumente usados para acondicionar droga.

Prefeitura se manifesta

A Prefeitura de Guarujá informou por meio de nota que apoia e confia no trabalho da Polícia Civil e aguarda a apuração dos fatos. Segundo o comunicado, desde 2022, o Município mantém um convênio com a Cooperativa Recicla Mais, que prevê a coleta de resíduos não perigosos e a recuperação de materiais plásticos e outros recicláveis.

“Cabe ao Município a cessão do caminhão em questão para o desenvolvimento das atividades. Para tanto, houve anuência da Câmara Municipal e do Tribunal de Contas do Estado (TCE). O convênio prevê a integral responsabilidade da cooperativa sobre seu uso”, diz o comunicado.

Em razão da utilização do caminhão para ações do tráfico de drogas, a Prefeitura vai instaurar sindicância para apurar a ocorrência, no âmbito das secretarias municipais de Meio Ambiente e Mudanças Climáticas (Semam) e Operações Urbanas (Seurb). Ao final desse procedimento, serão deliberadas as “medidas cabíveis”, conforme a nota.

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