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15/04/2021

Ex-mulher e 3 filhos do bicheiro Carlinhos Virtuoso são condenados por lavagem

Por Eduardo Velozo Fuccia

Considerada da elite santista, a família do banqueiro do jogo do bicho Carlos Eduardo Virtuoso, conhecido nas rodas sociais por Carlinhos Virtuoso, foi condenada por lavagem de dinheiro e integrar organização criminosa. Os sentenciados são a ex-mulher do contraventor, Iriana Bottene, e os três filhos do casal: Eduardo Bottene Virtuoso, Bernardo Bottene Virtuoso e Maria Augusta Bottene Virtuoso.

A sentença foi prolatada pelo juiz Walter Luiz Esteves de Azevedo, da 5ª Vara Criminal de Santos, no último dia 12. O magistrado condenou mais dez réus acusados integrar a organização criminosa liderada por Carlinhos Virtuoso. Conforme a decisão, que tem 150 páginas, os acusados poderão recorrer em liberdade. O cabeça já cumpre pena de 33 anos e dez meses de reclusão, em regime fechado.

Do clã Virtuoso, coube agora a Eduardo, filho mais novo de Carlinhos, a maior pena: 11 anos e seis meses de reclusão, em regime inicial fechado, pelos crimes de organização criminosa e lavagem de dinheiro. Ele ainda foi sentenciado a dez meses de prisão, em regime semiaberto, pela contravenção do jogo do bicho. Eduardo visitava o pai na cadeia, dele recebia ordens sobre a jogatina e repassava as diretrizes aos demais envolvidos.

Carlinho Virtuoso cumpre pena preso e comandaria da cadeia o jogo do bicho

Sem provas de participação no jogo do bicho, Iriana, Bernardo e Maria Augusta foram condenados somente por lavagem de dinheiro e organização criminosa. As penas de cada um deles totalizaram 11 anos de reclusão, em regime inicial fechado. O Ministério Público (MP) deverá recorrer para aumentar as sanções. A família Virtuoso é defendida pelo advogado Eugênio Malavasi, que também apelará pleiteando a absolvição dos clientes.

Em suas alegações finais, Malavasi negou o envolvimento de Iriana e dos filhos nos negócios ilícitos explorados por Carlinhos. O advogado alegou que a família Bottene Virtuoso tem sido injustamente perseguida pelo Ministério Público. No entanto, o Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organziado (Gaeco), do MP, produziu provas que convenceram o juiz sobre o envolvimento dos familiares do cabeça no esquema.

Lava Jato caiçara

“O jogo era feito em escala, explorado por estrutura contravencional. Produziu largas somas. Tinha relação promíscua com forças de segurança. Houve lavagem de dinheiro. O branqueamento de capitais também ficou demonstrado. Dele participaram Carlos Eduardo (Carlinhos Virtuoso), já julgado, Janaína, Eduardo, Iriana, Bernardo e Maria Augusta”, concluiu Walter de Azevedo.

Ainda de acordo com a sentença, a organização era composta por dois núcleos principais. “O primeiro se dedicava à obtenção dos valores ilícitos por meio do jogo do bicho. É a longeva e afamada banca Damasco. Respeitada no mundo da contravenção”. O segundo núcleo se especializou na lavagem dos capitais ilícitos, utilizando lojas de roupas, restaurante e produtora de eventos.

Também consta da sentença que Iriana permitiu o ingresso de dinheiro ilegal em sua loja. “Ela bem sabia que o numerário manejado por Janaína (outra corré) era proveniente do jogo. Com esses valores, ela cobriu os rombos de sua deficitária empresa. Mesclou cifras lícitas com ilícitas e, assim, justificou o elevado nível de vida que mantinha”, detalhou o magistrado.

O Gaeco também identificou depósitos de dinheiro oriundo do jogo do bicho para pagar despesas da ex-mulher e dos filhos de Carlinhos Virtuoso, tais como serviço de jardinagem em mansão na Praia de Maresias, no Litoral Norte, multas de trânsito, conserto de carro, faturas de cartão de crédito e até mensalidade do Tênis Clube de Santos, entre outras.

O juiz decretou, em favor do Estado de São Paulo, a perda de todos os bens, direitos e valores relacionados à lavagem de dinheiro, inclusive dos bens apreendidos, sequestrados e bloqueados nos autos e dos bens pertencentes às empresas usadas para o branqueamento de capitais, até o limite de R$ 8,5 milhões. Este valor teria sido ilicitamente auferido e lavado no período entre junho de 2015 e novembro de 2016.

Segundo o Gaeco, apesar de condenado e preso, Carlinhos Virtuoso “voltou a promover, constituir e integrar organização criminosa, com a concorrência de seu filho Eduardo, bem como de comparsas de sua confiança”. Mediante divisão de tarefas, o jogo do bicho era explorado em cerca de 200 pontos de apostas nas cidades de Santos, São Vicente e Praia Grande, havendo ainda esquema para lavar os capitais oriundos da contravenção.

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