Homem é condenado por matar policial e enterrar corpo em cemitério do PCC
Por Eduardo Velozo Fuccia
Acusado de assassinar um investigador e ocultar o cadáver, Marcos Matos Souza (na foto) foi condenado a 20 anos de reclusão pelo Tribunal do Júri de Santos. O corpo do policial foi descoberto enterrado em um cemitério clandestino do Primeiro Comando da Capital (PCC) 32 dias após ele ter sido sequestrado em frente a uma pizzaria.
Sob a presidência do juiz Alexandre Betini, o julgamento popular de Marcos, de 37 anos, aconteceu no último dia 19. Embora o crime tenha ocorrido em Cubatão, por interesse de ordem pública houve o desaforamento (deslocamento da competência do júri para outra comarca) e a sessão ocorreu em Santos.
Os jurados acolheram a tese do Ministério Público (MP) e condenaram o réu por homicídio triplamente qualificado e ocultação de cadáver. Betini fixou para esses crimes, respectivamente, as penas de 19 anos e 1 ano de reclusão, totalizando 20 anos, em regime inicial fechado.
O magistrado negou a Marcos a possibilidade de recorrer em liberdade, “tendo em vista a gravidade dos delitos e a periculosidade do réu”. De acordo com Betini, a manutenção da prisão cautelar do acusado é necessária para “garantir a ordem pública e a conveniência da instrução criminal, assim como a aplicação da lei penal”.
Segundo o MP, o homicídio foi qualificado pela tortura, pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima e pelo fato de o crime ter sido cometido em razão da condição de agente de segurança de Anderson. A pena de 19 anos aplicada ficou em um patamar intermediário entre a mínima (12) e a máxima (30) previstas.
Covardia e barbárie
O investigador Anderson Diogo Rodrigues, de 43 anos, foi sequestrado na madrugada de 25 de junho de 2016, na Ilha Caraguatá, em Cubatão. Ele estava com a namorada e teve a condição de policial civil descoberta ao retirar a sua carteira do bolso em uma pizzaria. Esse simples ato possibilitou que a sua funcional fosse mostrada de modo involuntário.
Pelo menos três homens, entre os quais Marcos, renderam o investigador e a namorada. O casal foi levado de carro à Vila dos Pescadores, comunidade carente formada em sua maioria por palafitas. Deste núcleo, apenas o policial foi conduzido de barco até uma ilha fluvial em uma área de mangue, próximo à Vila Esperança. A mulher foi liberada.
Lotado na Delegacia Seccional de Santos, Anderson estava afastado da função havia cerca de dez anos por motivo de saúde. O seu corpo foi encontrado por equipes da Delegacia de Investigações Gerais (DIG) de Santos e da Delegacia de Cubatão no dia 27 de julho de 2016. A descoberta do cadáver foi possível com a prisão de Marcos, ocorrida na véspera.
Refugiado em uma casa no município de Praia Grande, onde policiais da DIG apreenderam drogas, munições, pistola e revólver, Marcos já havia sido reconhecido por meio de fotografia como um dos envolvidos no sequestro de Anderson. O réu indicou aos agentes o lugar de mata fechada onde o investigador foi enterrado.
Próximo à cova de Anderson, enterrado despido e com as mãos na nuca, em posição típica de execução sumária, mais quatro foram encontradas. Uma delas estava aberta e vazia, aguardando o sepultamento da próxima vítima. Nas demais havia outros três cadáveres de pessoas do sexo masculino.
A funcional do investigador, outros documentos e até o medicamento que ele tomava foram achados sobre o seu corpo. O RG do policial apresentava uma marca de disparo de arma de fogo, sinal da tortura psicológica que sofreu, além da física, nos momentos antecedentes ao seu assassinato.
Os indícios são de que o cemitério clandestino não se destinava apenas à ocultação dos cadáveres. Ele também servia como local para realizar sessões do tribunal do crime promovidas pelo PCC e, conforme a sentença, eliminar desafetos da facção criminosa ou integrantes que de algum modo desagradaram os comparsas.