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12/11/2020

Júri condena a 19 anos ex-PM por executar jovem em emboscada pela internet

Por Eduardo Velozo Fuccia

O tiro teve requintes de execução sumária e foi na nuca com a vítima ajoelhada e com as mãos na cabeça. O autor do disparo foi um soldado da Polícia Militar, depois expulso da corporação por suposto envolvimento com drogas. A motivação do homicídio foi ciúme do  seu autor, que suspeitava de caso amoroso entre a sua namorada e o jovem morto. A pena imposta foi de 19 anos, sete meses e seis dias de reclusão.

O enredo do assassinato ainda teve um capítulo à parte, que o diferenciou de tantos outros crimes passionais. Jarbas Colferai Neto (dir.), de 25 anos, atraiu a vítima ao local do homicídio após conversar com ela pelo Messenger, do Facebook, por meio do perfil da namorada. Imaginando que dialogasse com a jovem, o universitário e atleta de hóquei Matheus Garcia Vasconcellos Alves (esq.), de 24 anos, foi atraído a uma tocaia fatal.

Câmera filmou o soldado da PM matar a vítima logo após ela desembarcar de carro de transporte de passageiro por aplicativo. Depois do crime, policial fugiu correndo

Sob a presidência do juiz Alexandre Torres de Aguiar, o júri popular de Jarbas aconteceu na última terça-feira (10), no Fórum de São Vicente, no litoral de São Paulo. O conselho de sentença acolheu a tese do promotor André Luiz dos Santos e do assistente da acusação, advogado Eugênio Malavasi. Segundo eles, Jarbas praticou um homicídio qualificado pelo motivo torpe e pela emboscada, que impossibilitou a defesa da vítima.

O advogado Alexander Neves Lopes apresentou um leque de opções aos jurados. Ele sustentou que Jarbas agiu em face de relevante valor moral ou sob violenta emoção, logo após injusta provocação da vítima. Apresentou ainda outras teses objetivando a atenuação da pena, como suposta semi-imputabilidade do réu, afastamento das qualificadoras do homicídio e confissão do acusado.

“As teses sustentadas pela defesa, diante de seu antagonismo, produziram arrepios espirituais em minha alma, como diria o saudoso criminalista Waldir Troncoso Peres, o príncipe do tribunal do júri”, comentou Malavasi. Porém, com o veredicto condenatório, o assistente acusação destacou que, “mais uma vez, o conselho de sentença de São Vicente fez justiça e minimizou o sofrimento da família”.

Crime planejado

O ex-soldado conseguiu a senha da namorada na rede social sem a autorização e a ciência dela. Desse modo, Jarbas conversava com o universitário havia cerca de seis meses. Em seus diálogos, o réu buscava provas de traição, que a pivô do crime garante que nunca houve. Com 24 anos à época do crime, cometido na noite de 18 de setembro de 2017, ela atribuiu o homicídio ao ciúme injustificado do acusado.

Após muita insistência da suposta jovem no Messenger, Matheus aceitou convite para encontrá-la. No último ano de Publicidade e Propaganda e atleta de hóquei do Clube Internacional de Regatas, com passagem pela Seleção Brasileira, o estudante concordou em vê-la na casa de uma prima dela. Em sua trama, Jarbas digitou na rede social que estava com a chave do imóvel, onde haveria segurança e privacidade.

A residência estaria vazia, conforme argumentou o réu ao se passar pela namorada. Ele forneceu um endereço que existe de fato, mas onde não mora prima alguma. O estudante só percebeu a cilada ao chegar ao local em um carro de transporte de passageiro por aplicativo. Tão logo o veículo foi embora, Jarbas apareceu na rua, que tem pouco movimento. Por ironia, ela fica ao lado do Fórum, onde o ex-PM foi julgado e condenado.

Armado de pistola, o soldado exigiu que a vítima lhe entregasse o celular. Além de o aparelho conter provas do crime, o seu sumiço daria a impressão de latrocínio (roubo seguido de morte). Em seguida, Jarbas mandou Matheus virar de costas, colocar as mãos na cabeça e se ajoelhar. Com um impiedoso tiro na nuca, o policial eliminou o universitário e fugiu.

As últimas conversas da vítima no Messenger foram examinadas pela Polícia Civil. A namorada de Jarbas negou ter marcado o encontro com Matheus, sendo apurado o uso indevido do perfil dela na rede social pelo réu. Imagens de uma câmera de segurança da rua onde ocorreu a execução também contribuíram para desvendar o assassinato. Com o crime esclarecido, Jarbas teve a preventiva decretada e foi capturado.

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