Morre de AVC investigador santista elogiado pelo Governo da Noruega
Por Eduardo Velozo Fuccia
Um dos investigadores mais experientes da região em atividade, Marcelo Mendes dos Santos, de 64 anos, faleceu na tarde desta segunda-feira (3), na Santa Casa de Santos, em decorrência de complicações de acidente vascular cerebral (AVC) sofrido na última quinta-feira (29/9). Ele era casado e deixa mulher, três filhos e três netos.
Com passagens por vários distritos policiais de Santos e delegacias da Baixada Santista, Mendes desempenhou na maioria dessas unidades a função de “encarregado”, ou seja, chefe dos investigadores. Possuía liderança nata, razão pela qual conquistava não apenas a confiança dos superiores, mas sobretudo dos subordinados. Era um tira-raiz.
Lotado no 7º DP de Santos, Mendes estava de férias quando começou a sentir os primeiros sintomas do AVC em sua casa. Levado à Santa Casa de Santos, já precisou ser internado de imediato na Unidade de Terapia Intensiva (UTI). O seu retorno ao trabalho estava programado para esta segunda-feira, data do seu falecimento.
“Como chefe, ele poderia ficar apenas na coordenação dos trabalhos, mas também saía a campo. Gostava de ser operacional e contribuía com as investigações levantando pistas importantes para o esclarecimento dos crimes”, afirmou o delegado Jorge Cruz, titular do 7º DP de Santos, com quem Mendes trabalhava há oito anos.
Ex-sargento do Exército e formado em Direito, o investigador trabalhou na Receita Federal como auxiliar de vigilância e repressão antes de iniciar a sua carreira de 31 anos na Polícia Civil. O velório ocorrerá na Santa Casa, das 11 às 14 horas de terça-feira (4). O sepultamento acontecerá em seguida no Cemitério da Filosofia, no Saboó.
Elogio internacional
Com mais de três décadas de carreira, Mendes contabilizava em seu currículo centenas de prisões em flagrante, capturas de procurados da Justiça e esclarecimentos de crimes das mais variadas modalidades. Porém, um dos casos solucionados pelo investigador merece destaque, porque obteve reconhecimento internacional.
Esse caso refere-se ao latrocínio do marinheiro norueguês Kjetil Vike. Casado com uma brasileira, com quem teve uma filha, a vítima compraria um apartamento em Santos e foi morta com um tiro no pescoço na manhã de 14 de outubro de 1999, data marcada para o fechamento do negócio imobiliário.
O pagamento seria à vista. O norueguês foi atraído até uma imobiliária no Embaré, após receber o telefonema de um homem que se passou por corretor do estabelecimento. A caminho desse local, o marinheiro foi surpreendido pelo verdadeiro autor da ligação, Antônio Carlos Trigo Marques dos Santos, o Di Menor, que anunciou o assalto.
Vike portava uma pasta de couro, na qual trazia US$ 39,5 mil (R$ 204 mil na cotação de hoje). Ele se recusou a entregar o dinheiro e Di Menor não hesitou em atirar com uma pistola calibre 380 para consumar o roubo. O crime ocorreu na frente da mulher do norueguês e o ladrão fugiu com um comparsa que o aguardava de moto a poucos metros.
Rodrigo Novaes Cardoso, o Kides, foi quem pilotou o veículo. Na época, Marcelo Mendes era o chefe dos investigadores do 3º DP de Santos e a sua equipe elucidou o latrocínio, apurando que a mentora do crime foi Andréia Trigo Marques dos Santos. Irmã de Di Menor, ela era a secretária da imobiliária na qual a vítima compraria o imóvel.
O esclarecimento do crime ocorreu em cerca de 15 dias, sendo os três acusados presos. Depois, Di Menor fugiu da cadeia e morreu antes de ser julgado, ao trocar tiros com policiais das Rondas Ostensivas Tobias de Aguiar (Rota), em Guarujá. Kides e Andréia foram condenados a 20 anos e dez de dias reclusão.
O tabloide VG, um dos principais da Noruega, mandou uma equipe de repórteres a Santos para cobrir o latrocínio e a reportagem rendeu manchete de capa. Em nome do Governo daquele país, o cônsul honorário Alexander Edouard Grieg enviou ao chefe da Polícia Civil na região voto de congratulações aos policiais que atuaram no caso.
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