Polícia investiga coordenadora de projeto de canoagem para crianças autistas
Por Eduardo Velozo Fuccia
Acusada de praticar vários estelionatos mediante o uso do nome de um projeto social de canoagem em Santos, destinado a crianças e adolescentes com deficiência, principalmente autistas, uma mulher é alvo de inquérito policial.
A investigação teve início após quatro vítimas registrarem boletim de ocorrência em 30 de novembro de 2024. Elas são mães de ex-alunos do projeto Mar da Igualdade, que a acusada diz ser idealizadora e responsável. Suspeita-se que haja mais lesados.
A Reportagem teve acesso ao boletim de ocorrência. No final dele, despacho de um delegado determina a instauração do inquérito porque, em uma análise preliminar, “há indícios do crime de estelionato de forma reiterada”.
Os indícios são reforçados “pelo fato de a suposta ONG Mar da Igualdade nunca ter sido registrada, o que caracteriza o engodo e voluntariedade da investigada em solicitar dinheiro para as vítimas sem qualquer perspectiva de ressarci-las”, diz o despacho.
A Polícia Civil já apurou que a averiguada se valeu de documentos forjados para a locação de um imóvel intermediada por uma imobiliária da Cidade. Na condição de vítima, o representante dessa empresa deverá ser intimado para prestar esclarecimentos.
Por ora, silêncio
Acompanhada de advogado e em atendimento a uma intimação policial, a averiguada compareceu na última quarta-feira (29) à 1ª Delegacia da Divisão Especializada de Investigações Criminais (Deic) de Santos, mas optou por nada declarar.
Segundo o Vade News apurou, o defensor da mulher disse que ela não se manifestará sem ter ciência de todo o conteúdo do inquérito. Duas vítimas entregaram à Polícia Civil dois pen drives com “provas” dos golpes, mas elas ainda não foram anexadas aos autos.
Fontes da Reportagem informaram que a investigada foi advertida na delegacia sobre supostas ameaças que estaria fazendo às vítimas por meio de aplicativo de mensagens e redes sociais, conforme relataram as próprias pessoas prejudicadas.
Modo de agir
Mãe de dois filhos autistas de 16 e 17 anos que participaram do projeto de canoagem, uma vítima contou que a acusada começou a lhe fazer solicitações de empréstimos de quantias em dinheiro para supostas despesas emergenciais da organização.
Os gastos seriam com a compra de remo, aquisição de outros materiais náuticos e até promoção da “noite da pizza”, mas a vítima afirmou que os recursos não foram empregados para as finalidades alegadas. Ela estima o seu prejuízo em cerca de R$ 7 mil.
“Ela (a investigada) faz um enredo para justificar a necessidade do dinheiro, entra na mente da gente e usa o nome do projeto para sensibilizar. Quando passei a exigir a prestação de contas, ela disse que me ressarciria tudo em três vezes”, disse a vítima.
Além de não devolver os recursos recebidos, a investigada excluiu os filhos da vítima do projeto e a retirou de um grupo do WhatsApp composto por mães de crianças e adolescentes para dificultar o contato com outras mulheres enganadas.
Posto 7
As atividades do Mar da Igualdade são realizadas quinzenalmente aos sábados, na altura do Posto de Salvamento 7. O projeto já teria contado com cerca de 120 alunos, número que diminuiu após a acusada começar a ser cobrada por pessoas que lhe deram dinheiro.
Uma atleta de canoagem afirmou à polícia que a acusada lhe pediu emprestado R$ 1 mil para pagar o transporte de materiais a serem levados até Ilhabela, onde ocorreria um evento relacionado ao projeto, mas não cumpriu a promessa de devolver o dinheiro.
Outra mãe de duas crianças autistas, de 12 e 6 anos, relatou na 1º Delegacia da Deic que os filhos participavam do projeto. Aproveitando-se disso, a investigada comprou semijoias dela, afirmando que pagaria na mesma data, mas não quitou a dívida.
Quando começou a ser cobrada pela mulher que lhe vendeu as semijoias, a coordenadora do Mar da Igualdade passou a ameaçá-la e a excluiu do grupo do WhatsApp de mães de alunos. Esse tipo de ação intimidaria outras vítimas de denunciar a acusada.
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