Tenente do Exército vira ré pela morte do marido empresário no litoral de SP
Por Eduardo Velozo Fuccia
Autora de dois disparos de pistola calibre 7.65 contra o marido empresário, que faleceu de septicemia (infecção generalizada) após 53 dias de internação em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), uma dentista tenente do Exército foi denunciada por homicídio qualificado pelo motivo fútil e pelo emprego de recurso que impossibilitou a defesa da vítima. O crime ocorreu em 3 de dezembro de 2021, em Praia Grande, no litoral de São Paulo.
Segundo a denúncia do promotor substituto Carlos Eduardo Viana Cavalcanti, embora o laudo necroscópico não tenha constatado como causa do óbito ferimento provocado por disparo de arma de fogo, o resultado morte operou como desdobramento da conduta da denunciada. Segundo o resultado do exame cadavérico, o empresário Bruno Piva Júnior, de 52 anos, morreu de “choque séptico por agente biológico”.
“Agindo com intento homicida, (a acusada) efetuou disparos de arma de fogo cujos ferimentos, ante a sua gravidade, necessitaram de intervenção cirúrgica. Logo, patente a existência de conjugação de causas – conduta do agente disparos de arma de fogo, aliada à causa superveniente (choque séptico em ambiente hospitalar), contribuiu para o resultado morte”, justificou o representante o Ministério Público.
A denúncia foi oferecida no último dia 7 e o juiz Eduardo Ruivo Nicolau, da Vara do Júri de Praia Grande, a recebeu nesta segunda-feira (10). O magistrado determinou a citação da agora ré Karina de Freitas Fogolin, de 42 anos, para ela apresentar no prazo de dez dias a sua resposta à acusação, na qual poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua defesa, oferecendo documentos, especificando provas pretendidas e arrolando testemunhas.
O promotor narrou na inicial que o empresário e a acusada estavam casados há cerca de quatro meses, não possuíam filhos em comum e viviam um “relacionamento conturbado motivado por ciúmes”. Na data do crime, Bruno e a mulher discutiram mais uma vez e ele resolver sair do imóvel onde residiam. Para isso, separou roupas dele e da filha adolescente. Em seguida, o homem foi com a garota até o seu carro.
O veículo já havia sido retirado da garagem e estava em frente à casa. Nesse momento, a ré questionou o marido para onde iria e, como não obteve teve resposta, pois a vítima falava ao telefone, iniciou-se novo desentendimento, durante o qual a mulher sacou uma pistola e disparou duas vezes. Uma bala atingiu a mão do empresário, enquanto a outra acertou o pescoço e se alojou na região torácica.
“O crime foi praticado por motivo fútil, tendo em vista que a denunciada, após mera discussão de casal, resolveu efetuar disparos de arma de fogo contra o esposo. Ainda, o crime foi praticado com recurso que dificultou a defesa do ofendido, pois efetuou disparos de arma de fogo durante discussão e enquanto a vítima falava ao telefone celular, o que reduziu ao extremo as chances de defesa”, detalhou o representante do MP.
Tudo filmado
Câmeras de segurança registraram a ação da tenente do Exército e desmoronaram a sua versão inicial, dada a policiais militares, de que o marido havia sido baleado por ladrões. Autuada por tentativa de homicídio simples, a acusada teve a prisão em flagrante convertida em preventiva no dia seguinte em audiência de custódia, sendo recolhida ao 2º Batalhão de Polícia do Exército (BPE), em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo.
Uma semana depois, a juíza Natália Cristina Torres Antonio deferiu pedido de liberdade provisória feito pelo advogado Eugênio Carlo Balliano Malavasi e revogou a prisão da dentista. Em contrapartida, a magistrada lhe impôs as medidas cautelares de recolhimento domiciliar noturno, proibição de se mudar de endereço sem prévia autorização judicial e de não praticar novos crimes.
No dia 7 de janeiro de 2022, quando a acusada já estava solta, houve a distribuição de uma ação de divórcio consensual entre ela e o marido, na 3ª Vara Cível de Barretos (SP). Naquela ocasião, Bruno estava internado havia 35 dias na UTI. O fato chamou a atenção do MP, que requereu à vara judicial da comarca do Interior cópia do processo, que está sob sigilo. A ação penal de Praia Grande também tramita sob segredo de justiça.
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