Tesoureiro de escola de samba é condenado por integrar organização criminosa
Por Eduardo Velozo Fuccia
Apontado como tesoureiro do Primeiro Comando Capital (PCC) e exercendo essa mesma função em uma escola de samba de Santos (SP), Renato da Costa Menezes, o Gordinho da Unidos, de 47 anos, foi condenado pelos delitos de integrar organização criminosa e posse ilegal de armas e munições. Fixada em seis anos de reclusão, a pena deverá ser cumprida inicialmente em regime semiaberto, sendo mantida a prisão preventiva do réu e, consequentemente, vedada a sua possibilidade de recorrer em liberdade.
De acordo com a juíza Elizabeth Lopes de Freitas, da 4ª Vara Criminal de Santos, o delito de integrar organização criminosa (artigo 2º da Lei 12.850/2013) “restou amplamente caracterizado nos autos”. Conforme a sentença, a magistrada teve essa conclusão por causa da prova oral colhida em juízo e dos laudos de perícias realizadas em cadernos de contabilidade, três rádios de comunicação e uma máquina para recebimento de valores por meio de cartão. Esse material estava na moradia do acusado, no Morro São Bento.
Munidos de mandado de busca e apreensão, policiais civis revistaram a casa no dia 27 de dezembro de 2023 e nela também apreenderam balança de precisão, duas máscaras do tipo ninja, espingarda calibre 12, pistola 9 milímetros com carregadores prolongados e modificados para a seleção de rajada, 54 munições e um cartucho vazio calibre .50, que se destina a armamento antiaéreo. Conforme a magistrada, esses materiais “comprovam que o acusado integra organização criminosa e pratica atividades criminosas”.
Por ocasião da prisão em flagrante de Gordinho, o Grêmio Recreativo Escola de Samba Unidos dos Morros repudiou por meio de nota a associação do nome dele com o da entidade, “que é uma célula familiar integrada por milhares de componentes que primam pelo respeito às leis, à moral e aos bons costumes”. Segundo o comunicado, o tesoureiro foi afastado pela presidência “até que todos os fatos sejam julgados” e “nenhum documento nosso foi apreendido e nenhuma diligência policial ocorreu em nossa sede”.
O réu que disse
O acusado negou em juízo ser membro da facção, mas admitiu a posse das armas que foram apreendidas. Segundo ele, os armamentos foram “achados” por um pedreiro dentro de um tonel, que estava enterrado no terreno onde constrói uma casa em Itanhaém, no Litoral Sul. Em relação aos rádios, disse que eles serviam para o seu trabalho e também para a escola de samba, pois a diretoria da entidade os utiliza nos desfiles carnavalescos.
A defesa de Gordinho juntou ata de assembleia geral ordinária e posse da diretoria da escola de samba para o triênio 2023/2026, comprovando que ele é tesoureiro. O réu declarou que exercia o cargo desde 2015, sendo as movimentações bancárias da Unidos dos Morros feitas por meio de aplicativo de celular, pois não possui cartão. Disse também que apenas ele e o presidente movimentavam as contas da entidade, sendo as retiradas e os depósitos em dinheiro realizados em caixas eletrônicos, na presença de ambos.
Em relação à máquina de cartão de crédito apreendida, Gordinho disse que o equipamento era usado para as vendas de bonés e camisetas da agremiação. Sobre as anotações dos cadernos recolhidos em sua casa, alegou que elas são relativas aos fluxos de caixa e demais informações financeiras da Unidos dos Morros. Quanto à balança de precisão, contou que ela pertencia à sua esposa, já falecida, servindo para o preparo de receitas balanceadas.
“A versão apresentada pelo réu, por ocasião de seu interrogatório judicial, não se sustenta, diante da robusta prova produzida no curso da instrução processual”, assinalou a juíza. A magistrada destacou a “coerência e harmonia” dos relatos dos investigadores, em conformidade com as demais provas, sem que a defesa trouxesse qualquer elemento apto a abalar a idoneidade da versão dos policiais. “Seus depoimentos foram firmes e seguros, nada havendo que possa desmerecer a credibilidade dos mesmos”.
Um dos policiais que participou das investigações e do cumprimento do mandado de busca e apreensão na casa do réu revelou que, entre a sala e a cozinha, havia um rádio de comunicação ligado. No momento da diligência, esse aparelho transmitia o alerta de terceira pessoa, não identificada, de que a Polícia Civil estava no morro e havia ingressado na casa de Gordinho. Segundo o Ministério Público, esse fato reforça que o réu “integrava organização criminosa que desenvolve o tráfico de drogas na localidade”.
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