Da Bahia para o mundo, casal é condenado por tráfico internacional de cocaína
Por Eduardo Velozo Fuccia
Há uma década, Karine de Oliveira Campos e o seu companheiro, Marcelo Mendes Ferreira, foram presos por tráfico na Bahia, mas só ficaram seis meses na cadeia. O tempo passou, os negócios ilícitos do casal avançaram além do Atlântico e, agora, ele foi condenado por tráfico internacional, pela 5ª Vara Federal de Santos, com mais três subalternos. A maior pena é a da mulher: 17 anos e dois meses de reclusão.
Considerada a rainha do tráfico internacional do Brasil, Karine divide com o companheiro a liderança de organização criminosa responsável pelo envio de mais de seis toneladas de cocaína para o exterior em navios zarpando de diversos portos. O esquema foi descoberto pela Polícia Federal (PF) durante a Operação Alba Vírus (do latim, veneno branco, em referência à droga).
Embora condenados, com prisão preventiva decretada e sem o direito de recorrer soltos, Karine e Marcelo estão foragidos. Eles ficaram conhecidos nos meios policiais como casal Busca-pó e alcançaram projeção na venda de cocaína em larga escala que não faz mais lembrar da dupla presa em 2009. Naquela época, o dueto unido pelo amor e pelo crime chefiava uma quadrilha com atuação nas cidades baianas de Camaçari e Alagoinhas.
Sentença
Com 190 páginas, a sentença do juiz federal Roberto Lemos dos Santos Filho, prolatada no último dia 23, destacou a liderança do casal. “Karine e Marcelo, pessoas que não possuem fonte de renda lícita conhecida, construíram e estruturaram, ao longo de anos, um grupo criminoso financeiramente poderoso, tendo por atividade principal o tráfico internacional de cocaína”. Mais quatro ações penais da Alba Vírus estão em curso.
Roberto Lemos também considerou demonstradas a autoria intelectual do casal para a execução dos crimes e a “subserviência” dos demais réus em relação a ele. Marcelo foi condenado a 15 anos, dois meses e dez dias de reclusão. Os demais sentenciados e as respectivas penas são: Éder Santos da Silva (13 anos, um mês e 26 dias), André Luís Gonçalves (9 anos e quatro meses) e Pedro Marques de Oliveira (12 anos e oito meses).
Assim como o casal, Éder também está foragido. Denúncia do Ministério Público Federal (MPF) denunciou o grupo por tráfico e associação para o tráfico, atribuindo-lhe sete “eventos” – denominação de cada operação de tráfico internacional descoberta pela PF. Na principal delas, em duas casas situadas em Guarujá, nos dias 20 e 21 de fevereiro de 2019, havia 1.343 quilos de cocaína.
Transações filmadas
Nos imóveis também foram apreendidos um fuzil, cinco pistolas, 21 celulares, documentos, a quantia de R$ 1.020.650,00 e materiais usados para preparar e embalar drogas. Nos aparelhos havia diversos arquivos que incriminam os acusados e revelam vultosas remessas de cocaína ao exterior. Há, inclusive, vídeos mostrando alguns réus participando da ocultação da droga em cargas lícitas a serem embarcadas em navios.
Segundo a PF, as filmagens eram feitas para servir de “prova” aos líderes da organização e importadores do entorpecente de que o esquema foi executado conforme o planejado. Além de identificar integrantes da rede criminosa, os vídeos desvendaram outras seis transações, até então, ignoradas pela PF. Para o juiz, as gravações comprovaram “de forma categórica e definitiva” os eventos narrados na denúncia do MPF.
A cocaína foi escondida em vários tipos de carga, tais como madeira, ardósia, frango congelado e amianto. Dos portos de Santos (SP), Paranaguá (PR) e Navegantes (SC), navios zarparam para Antuérpia (Bélgica), África do Sul e Valência (Espanha) levando cerca de seis toneladas do entorpecente. A Alba Vírus apurou que a organização também utilizou portos do Nordeste, em especial o de Salvador, para enviar a droga ao exterior.
Perda de bens
Para lavar o dinheiro do tráfico, Karine e Marcelo compraram caminhões e carros de luxo, montaram duas empresas de logística e adquiriram fazenda por R$ 12 milhões e outros imóveis. Com indícios de serem proveito da venda de cocaína, joias e relógios recolhidos em endereços do casal foram avaliados em R$ 1.760.380,00. Roberto Lemos decretou a perda, em favor da União, dos bens e do dinheiro apreendidos na Alba Vírus.
Em relação a uma das pessoas jurídicas montadas pela rainha do tráfico internacional, o titular da 5ª Vara Federal de Santos a rotulou na sentença como “empresa de fachada, que recolhia regular e pontualmente todos os impostos, pagava todas as suas obrigações, mas não prestava de fato os serviços previstos em seu contrato social, já que boa parte da frota de caminhões ficava parada no galpão alugado à transportadora”.