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30/10/2022

Após disparar na rua, policial militar amigo de Carla Zambelli paga fiança e é solto

Por Eduardo Velozo Fuccia

O homem apontado como segurança da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), acusado de atirar no meio da rua durante confusão envolvendo a parlamentar e um jornalista negro, foi autuado em flagrante pelo delito de disparo de arma de fogo e liberado mediante o pagamento de fiança de R$ 1.300,00. Zambelli portava uma pistola 9 milímetros e chegou a sacá-la, mas o delegado Sebastião Mariano Cavallaro, do 78º DP (Jardins), não vislumbrou crime por parte dela.

A deputada apresentou a documentação referente à sua arma de fogo e ao seu porte legal. “Em que pese existir a Resolução 23.669/2021, que proíbe em seu artigo 154 e 154-A que seja carregado/transportado arma de fogo a 100 metros da seção eleitoral, nas 48 horas que antecedem o pleito, no caso em comento não há nenhuma seção eleitoral próxima ao local”, justificou Cavallaro. O tumulto aconteceu na Alameda Lorena, área nobre de São Paulo, no sábado (30/10) à tarde, e logo viralizou nas redes sociais e repercutiu na mídia.

Além do crime de disparo de arma de fogo (artigo 15 da Lei 10.826/2003 – Estatuto de Desarmamento), punível com reclusão, de dois a quatro anos, e multa, que foi imputado ao policial militar, Cavallaro deu à ocorrência as capitulações jurídicas de injúria (artigo 140 do Código Penal), ameaça (art. 147 do CP) e lesão corporal (art. 129 do CP), mencionando a deputada e o jornalista como “partes”.

Devido ao foro por prerrogativa de função da deputada federal, o delegado assinalou que todas as peças do procedimento serão encaminhadas aos “órgãos competentes”. Ainda conforme Cavallaro, a tipificação que deu ao episódio poderá receber posterior reenquadramento ou acréscimo de outras capitulações legais, “sendo que com relação aos fatos, exceto o atrelado ao disparo de arma de fogo, serão posteriormente melhores (sic) esclarecidos”.

Versões

Policial militar lotado na Capital paulista, Valdecir Silva de Lima Dias, de 46 anos, disse no 78º DP que é “amigo” da deputada e por ela foi convidada a almoçar em um restaurante. Ao saírem do estabelecimento, foram abordados na calçada por dois homens, um dos quais “moreno alto”, que teria ofendido a parlamentar e manifestado ser simpatizando do candidato Lula. Os ânimos se acirraram e alguém por trás, que não pôde ver, empurrou a deputada, fazendo-a cair.

Dias relatou que, na sequência, Carla e ele correram atrás do homem com o qual a deputada se desentendeu. O amigo, suposto segurança, se identificou como policial e sacou um revólver calibre 38. Em determinado momento, ainda conforme o autuado, o seu joelho operado “falhou” e o fez pisar em falso. O PM acrescentou que quase caiu, instante em que acidentalmente a sua arma disparou em direção ao solo.

Segundo a versão do jornalista Luan Araújo, de 32 anos, ele e um amigo saíram de uma hamburgueria quando ouviram uma pessoa gritar “aqui é Tarcísio” (candidato bolsonarista ao governo de São Paulo). Em seguida, Luan respondeu “amanhã é Lula, vocês vão perder”, iniciando-se a discussão com a deputada Carla Zambelli e outras pessoas que a acompanhavam. Tais correligionários passaram a provocá-lo e a gravar o desentendimento com os celulares.

Ao tentar se afastar do local, o jornalista foi perseguido pela parlamentar e outras pessoas, escutando um tiro enquanto corria. Luan acrescentou que levou chutes e socos, sendo ainda alvo de uma tentativa de rasteira dada por um homem e ficando na mira da pistola empunhada pela deputada, que dizia “deita no chão, deita no chão”. Sentindo-se acuado, procurou se refugiar em uma lanchonete, mas Zambelli e as demais pessoas entraram no comércio.

Luan afirmou que a deputada e os seus acompanhantes insistiram para que se deitasse no chão, mas ele recusou porque a ordem não partiu de policiais. Quando os ânimos se acalmavam, um homem careca, de camisa verde ou azul, o chamou para ir conversar no estabelecimento, o que também não foi aceito pelo jornalista. Posteriormente, soube de um vídeo no qual Zambelli dizia que “o PT mandou um negro pra cima dela”. Luan concluiu dizendo que teme sua vida e a da família.

Zambelli apresentou relato parecido com o do policial militar à paisana e de folga, justificando que sacou a sua pistola durante o “acompanhamento aos agressores”, porque o jornalista fez menção de que trazia uma arma da cintura e ameaçou pegá-la. Em seu depoimento na delegacia, ela se referiu ao jornalista como “indivíduo de pele negra, o qual se encontrava visivelmente alterado”. As declarações de Luan foram referendadas por um amigo seu ao delegado.

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