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24/01/2020

Condenados por tráfico são suspeitos de ligação com o Hezbollah e a Lava Jato

Por Eduardo Velozo Fuccia

Dez homens acusados de integrar organização criminosa responsável pelo envio de centenas de quilos de cocaína à Europa, via Porto de Santos, foram condenados pela Justiça Federal. Os líderes da megaquadrilha ainda são suspeitos de financiar atividades terroristas do Hezbollah e tentar comprar um laboratório farmacêutico envolvido na Operação Lava Jato.

A partir de dossiê da Drug Enforcement Administration (DEA) – agência antidrogas norte-americana, a Polícia Federal (PF) começou a desmantelar a organização criminosa em 2014. O documento foi enviado às autoridades do País por meio da Embaixada dos Estados Unidos no Brasil.

“Inteligência recente da DEA indica que Mohamed Ali Jaber (vulgo Ali, Mohamed) é atualmente o líder de uma organização de tráfico de drogas internacional com base em São Paulo, e que é responsável por carregamentos de centenas de quilogramas de cocaína para países da Europa e África, trabalhando via Porto de Santos, no Brasil”, informa parte do dossiê.

Mohamed é libanês e recebeu a maior pena: 37 anos, nove meses e 18 dias de reclusão, pelos delitos de tráfico internacional de drogas e integrar organização criminosa. O cabeça contaria com a parceria de compatriotas no comando do grupo, razão pela qual a PF batizou a investigação de Operação Beirute.

Uma tonelada e meia

No dia 7 de julho de 2014, no município de Ipeúna (SP), houve a apreensão de 1.180 quilos de cocaína do grupo. Escondida em uma carga de pisos cerâmicos, a droga foi preparada na cidade vizinha de Rio Claro e seguia de caminhão ao Porto de Santos. O objetivo dos criminosos era enviar o entorpecente a Portugal, onde ele valeria US$ 60 milhões (R$ 253 milhões).

A ação policial não intimidou a organização criminosa, que teve mais dois lotes de cocaína para exportação apreendidos em Guarujá (30 quilos) e Santos (290 quilos), respectivamente, nos dias 3 de setembro e 26 novembro de 2014. Quem não conseguiu prender em flagrante nessas operações de logística do tráfico, a PF identificou durante as investigações da Beirute.

O Ministério Público Federal (MPF) denunciou 17 réus. Dois respondem às acusações em processos distintos, ainda em trâmite. Mohamed e os 14 restantes foram sentenciados, no último dia 13, pela juíza federal Daniela Paulovich de Lima, da 1ª Vara Federal de Piracicaba. Por insuficiência de prova, ela absolveu cinco.

Os demais condenados e as suas penas são: Walter Fernandes (cinco anos e dez meses), Hicham Mohamad Safie (10 anos, um mês e 12 dias), Marcelo Thadeu Mondini (22 anos e dois meses), Nahim Fouad El Ghassan (21 anos, quatro meses e 24 dias), Nivaldo Aguillar (32 anos e oito meses), Andrew Balta Ramos (30 anos e quatro meses), Jesus Missiano da Silva Júnior (30 anos e quatro meses), Carlos José da Silveira (cinco anos e dez meses) e Marcelo Almeida da Silva (17 anos e seis meses).

Advogado Eduardo Durante informa que os réus recorrerão soltos graças a habeas corpus concedido pelo TRF3

Recurso em liberdade

O advogado Eduardo Durante defende Andrew Ramos, Marcelo da Silva e um terceiro réu que foi absolvido. Ele informou que os dez condenados poderão recorrer em liberdade. Na sentença, a juíza fundamentou a possibilidade de os acusados apelarem soltos por terem sido beneficiados com habeas corpus do Tribunal Regional Federal da 3ª Região (TRF3).

Concedido no dia 19 de fevereiro de 2018, o habeas corpus substituiu a prisão preventiva dos réus pelas medidas cautelares de comparecimento mensal em juízo para justificar atividades, proibição de deixar as cidades onde moram sem autorização judicial e proibição de sair do País, com entrega do passaporte à Justiça Federal.

Rezbollah e Lava Jato

O interesse da agência antidrogas norte-americana pelo caso decorreu das suspeitas de que a megaquadrilha injetava recursos financeiros no Hezbollah, detentor de braço político no Líbano, e lavava dinheiro do narcotráfico internacional nos Estados Unidos com a compra de imóveis.

A PF apurou que Hicham Safie iniciou tratativas, que não evoluíram, para comprar um laboratório farmacêutico. A empresa objeto da negociação, segundo a Polícia Federal, foi usada pelo doleiro Alberto Youssef, delator da Lava Jato, para lavar dinheiro e mascarar o repasse de propinas a agentes públicos e políticos.

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